Energia solar na RMC:
iniciativas que fazem o sol brilhar para todos
Fernanda Bellei
Especial para o WEBCampinas
Organizações não-governamentais e instituições de pesquisa como a Unicamp trabalham para popularizar o uso da energia solar na Região Metropolitana de Campinas
Considerado a ‘Arábia Saudita’ das energias alternativas, o Brasil é um dos países mais privilegiados do mundo quando o assunto é a riqueza de fontes energéticas renováveis e não poluentes. Além de ter grande potencial para a captação de energia eólica e de possuir uma vasta área geográfica coberta de terra propícia para o plantio de oleaginosas, que podem ser usadas para a produção em larga escala de biocombustíveis, nosso país tem um invejável potencial para a captação da energia do Sol.
Segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, publicado em 2006 pelo INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o Brasil recebe mais de 2.200 horas de insolação por ano, um potencial equivalente a 15 trilhões de MWh (MegaWatt), o que corresponde a 50 mil vezes o consumo nacional de eletricidade. Como você deve ter imaginado, ainda não usamos nem 1% deste potencial. Porém, iniciativas pontuais localizadas na região de Campinas estão dando exemplos de que é possível reverter esta situação.
Da academia para a população
A aplicação mais popular da energia do Sol é o aquecimento da água. Um aquecedor solar doméstico, recurso cada vez mais conhecido e procurado no país, também pode ser construído em sua casa, com materiais facilmente encontrados em lojas de materiais de construção, por um preço bastante acessível: em torno de R$ 300,00. Um desses protótipos foi desenvolvido pelo professor Júlio Roberto Bartoli, da Faculdade de Engenharia Química da Unicamp.
O pesquisador Renato César Pereira um dos participantes do projeto, conta que a idéia é popularizar o uso da energia solar “Hoje temos um manual ilustrado que ensina a fazer seu próprio aquecedor solar e gostaríamos de distribuí-lo para a população de alguma maneira, para isso, estamos procurando patrocínio”. Renato está desenvolvendo sua tese de doutorado sobre energia solar na Unicamp e coordena o projeto ‘Sole Mio!’, através do qual ministra oficinas de construção e instalação dos aquecedores. “A região de Campinas é privilegiada quanto à incidência solar. Por aqui o Sol aparece em até 275 dias por ano e em 210 dias, de 7 a 13 horas”, afirma o pesquisador.
O aquecedor solar desenvolvido por Bartoli é feito com forro alveolar (forrinho PVC), reservatório de água convencional, que pode ser revestido de material térmico, e tubos e conexões de PVC. “A construção de um aquecedor solar é muito simples e o retorno é significativo, pois as casas que têm aquecedores mostram uma grande redução nas contas de energia. Além disso, o Sol é uma fonte de energia limpa, que não polui e não gera resíduos.
O Brasil oferece condições ideais para o aproveitamento da energia solar, pois o Sol aparece muitos dias por ano. Apesar disso, sabemos que existem no mundo 140 milhões de metros quadrados de painéis solares instalados, mas apenas 2% estão no Brasil, desses, somente 1% estão nas residências”. O manual para construção do aquecedor está disponível no site
www.csbc.iv.fapesp.br.
Projeto de ONG leva aquecedores à Vila Brandina
600 famílias com aquecedor solar. É isso que a ONG Plantando Paz na Terra quer conquistar na comunidade da Vila Brandina, uma área carente em Campinas, por meio do “Aquecendo-se com o Sol”. A arquiteta Marília Ferraz Ribeiro, coordenadora do projeto, explica que 40 aquecedores já foram construídos e instalados por um grupo de moradores selecionados para receber um curso de capacitação, em setembro de 2007. O dinheiro para a compra do material e para a capacitação veio por meio de um patrocínio do Instituto HSBC Solidariedade, além disso, os monitores e professores recebem uma remuneração para desenvolver o trabalho.
Uma das moradoras beneficiadas com o aquecedor, a comerciante Aurinda de Almeida Rocha, se diz satisfeita com a economia “Antes eu pagava de R$ 150,00 à R$ 160,00 da minha conta de luz, hoje pago sempre menos de R$ 100,00. Além de economizar, acho que a água do banho ficou mais quentinha e mais gostosa agora”. A média de economia de energia elétrica gira em torno de 30% à 35% entre os moradores da Vila. “Aqui mesmo na ONG nós temos um protótipo do aquecedor, que serviu como modelo para a construção dos outros. Usamos a água quente em nossa cozinha, por exemplo, o que também é uma atitude ecológica, pois a água quente ajuda a dissolver a gordura, assim usamos menos sabão”, explica a arquiteta.
Para conseguir levar o aquecedor às 600 casas, Marília conta que pretende criar uma mini escola para os moradores que quiserem aprender a construir os aquecedores. “Acreditamos que, quando eles (os moradores) se especializarem, poderão até começar a comercializar esses aquecedores de baixo custo”. O aquecedor solar construído pelos moradores usa uma caixa d’água de 300 litros e custa em torno de R$ 550,00.
Uma casa sustentável
Desde de que foi apresentada no Sustentar – Fórum Social para o Desenvolvimento Sustentável, realizado pela Prefeitura de Campinas no dia 26 de maio, a casa sustentável da Cohab de Campinas (Companhia de Habitação Popular) se tornou objeto de desejo de muita gente. Construída em uma área de 42 m², sua estrutura é toda feita com material de demolição e sua telha é feita de papel reciclado impermeabilizado com uma camada de betume.
Além disso, é equipada com um sistema simples e eficaz de aproveitamento da água da chuva e, é claro, possui um sistema de aquecimento de água por energia solar. “Em menos de duas semanas, mais de 200 pessoas procuraram a Cohab para saber mais informações sobre a casa sustentável. Elas ficam surpresas ao saber do valor da casa e entusiasmadas quando citamos a economia de energia elétrica proporcionada pelo uso do aquecedor solar”, conta Sérgio Henrique da Silva, responsável pela divulgação do projeto. A casa custa R$ 32.000 e o aquecedor solar instalado promete uma redução de 30% à 40% do consumo de energia elétrica.
Mas a economia não é só o que chama atenção. Muitas pessoas mostram interesse pela casa justamente porque sua construção oferece baixo impacto para o meio ambiente. É o caso da bióloga Andréia Pimentel, de 25 anos, que participou de uma visita ao imóvel. “Estou procurando tudo o que se relaciona à construção sustentável e eu acredito que, cada vez mais, as pessoas estão desenvolvendo sua consciência ecológica”. A iniciativa da construção e popularização da casa ecológica é pioneira da Cohab Campinas, que pretende começar a produzi-la em larga escala. “Nosso objetivo é começar a comercializar as casas ainda este ano e, em breve, passar a substituir todo nosso padrão de construção por este da casa sustentável”. A casa fica na Avenida Nestor Castanheiro, quarteirão 6343, lote 1, no bairro Parque Itália e pode ser visitada mediante agendamento feito com a Cohab Campinas.
Atlas Brasileiro de Energia Solar - http://swera.unep.net/
ONG Plantando Paz na Terra – www.plantandopaznaterra.org.br
24 de junho de 2008
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